Prêmio de consolação

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Hoje é o dia “daquele” aniversário. Sete a um. Gol da Alemanha. Lembra?

Pois é. Estão dizendo por aí que é o aniversário do maior fiasco do futebol brasileiro. E o é, em certa medida. Mas a tragédia foi pior do que um jogo de futebol.

Em uns poucos minutos, a casa caiu. O que se ouviu no estádio não foi o aplauso da multidão para a seleção que viria a ser a campeã do mundo, nem a vaia monumental a um grupo de homens que acreditava – ainda acredita? – no pensamento mágico de que a maneira otimista de encarar as entrevistas no final das partidas, resolve tudo (trabalho? Dedicação? Treinamento? Concentração? Equilíbrio? O que é isso? Para o que serve?). O que se ouviu foi o som da máscara caindo. Aquela máscara que animava o povão. A gente tem um congresso corrupto, e daí? Temos a seleção canarinho. A saúde pública é um sufoco, e daí? A gente tem o craque do momento. A educação pública faliu e quem é que liga? Pois se nós seremos hexa. Pode ser que ninguém saiba o que é um prefixo, ou alguma coisa de grego, mas “hexa”, todo o brasileiro sabia o que significava. E ainda sabe.

Mas, de repente, sete a um.

Não havia mais hexa, nem seleção canarinho, nem craque da rodada. Faz um ano que temos de nos deparar com o país que temos construído na última década, sem a ilusão de um campeonato qualquer. Não somos melhores em nada. Não há nada que nos console da saúde pública em luta diária, dos políticos corruptos, da violência urbana. Não há nada que nos salve da mediocridade. Porque talvez seja isso o que mais dói na alma brasileira: reconhecer que não somos os melhores, os mais bonitos, os mais inteligentes, os mais puros. Somos apenas humanos, iguais a bilhões de outros seres humanos, e alguns deles, vejam só, ainda por cima se saem melhor do que a gente, tem melhor saúde, melhor educação e um sistema político que, se é corrupto, pelo menos tem mecanismos sérios para colocar os senhores falcatrua atrás das grades e recuperar os recursos desviados.

De repente, sete a um.

E lá estávamos nós, nus, o único país da América Latina que não fala espanhol e não tem a menor intenção de aprender, os olhos voltados para o Hemisfério Norte, como desde o início da nossa História. É verdade que apareceu um campeão no surf – um país com o nosso litoral tem a obrigação moral de ter um campeão no surf, embora não tenha a obrigação moral de ter educação de qualidade para todo o mundo, apesar dos milhões de brasileiros, por exemplo (e é claro que isso foi uma ironia). É verdade que iremos abrigar as Olimpíadas no ano que vêm. Mas, em sério, quem é que liga para as Olimpíadas, quando perdeu o hexa? Preparar atletas para as Olimpíadas leva tempo, muito tempo, pede investimentos sérios em muitas coisas outras, que não apenas esporte, e os resultados a gente nunca sabe quais serão.  Quem é que liga para esportes que a gente precisa investir sem ter a certeza do retorno?

De repente, sete a um.

Pobre povo, este, que acha que precisa de troféus. Pobre do povo que precisa de medalhas.

Feliz aniversário, Brasil.

Pelo menos, somos penta.

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