Nova Bassano

torre

Nova Bassano tem o som das madrugadas.

A linha de luz colore os altos da serra em cuja sombra a pequena cidade se aninha, recortando os altos do céu estrelado, como a tesoura de um menino brincando com papel negro estrelado.

Ela tem uma vocação de escalador. A cidade brota das vertentes do que um dia foi mato. Em algum lugar reservado, no fundo das paredes íngremes e rochosas dos montes, corre um veio de água que um dia foi o esmeril que cortou a pedra dura. Ao longo dele, as construções se erguem, galgando sem medo o ângulo sério, abrindo caminho, plantando seus alicerces, seus pomares, suas crianças.

Como todas as madrugadas, a pequena cidade tem algo do frescor do dia por nascer, da promessa das agendas lotadas, das esperanças de quem vive. Ela não se oferece ao viajante da estrada de asfalto. Se revela aos poucos, prudente, cautelosa, bella ragazza de verde, onde os homens erguem novos edifícios todos os dias, trafegando pelas ruas azul-acinzentadas de paralelepípedos, pelas calçadas limpas, ao largo das hortas pujantes e do espaço que a cidade escolheu para crescer. O dia passa depressa nos compromissos humanos. Quando a tarde cai, levando consigo a luz e o calor do sol, em pouco tempo a noite se estende para acalentar e aquietar. Não espere grande vida noturna em Nova Bassano. Mas espere acordar de madrugada, quando nada se ouve.

Em Nova Bassano, o silêncio é tão profundo, que os sonhos se calam para ouvir. E a gente acorda no silêncio deles. E ouve o silêncio, também. O profundo, inebriante, silêncio das madrugadas.

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