Além do umbral, o tempo.
Cada dia passado, guardado além das janelas cerrados. Como num jogo de armar, os vidros refletem o céu, o passeio das nuvens e o vagar do Sol. Amarelinha de vidro. Embaixo o mármore antigo, em cima o céu.
Há um cinza esverdeado, como se as cores tivessem desistido. Saturação zero. Preto e branco intercalados (mas ali ao lado, as camélias rosa florescem ramalhetes).
O som do tráfego constante da estrada que sempre foi passagem de gente, correnteza de vidas, troveja como a maré na praia. Vai e vem, num fluxo interminável. Aqui dentro, abraçada pelas árvores do jardim, pelas janelas fechadas e o musgo, o rugido se esmaece. Quase silêncio.
Bela coisa são as janelas antigas das casas velhas, adormecidas atrás das folhas dos jardins, dos arbustos que florescem e deixam cair suas flores como presentes fugazes. Se pudéssemos abrir suas pétalas de madeira antiga e deixar entrar o sol, talvez os fantasmas dos dias idos se apagassem com as sombras e as paredes florescessem de novo com riso e amores, como se a primavera fizesse ali fazer morada novo.
Janelas fechadas e antigas: guardando o tempo, fazem a imaginação tecer novas histórias.
Muita sensibilidade!
Que possamos ver essas belas “pétalas de madeira antiga” abrirem novamente!
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